Sobre a relevância das coleções regionais
uma perspectiva a partir de uma coleção recente de mamíferos no coração do hotspot da Mata Atlântica no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.32673/bjm.vie90.34Palavras-chave:
Amostras de tecido, Digitalização, Coleções científicas, Espécime, Patrimônio genéticoResumo
Coleções biológicas são a base do conhecimento sobre a biodiversidade na Terra e boa parte delas apresentam-se em caráter regional. Aqui, apresentamos duas coleções da Universidade Federal do Espírito Santo—a Coleção de Mamíferos (UFES-MAM) e Coleção de Tecidos Animais (UFES-CTA). Desde a criação, essas coleções vem sendo uma das principais depositárias de espécimes de mamíferos coletados no Espírito Santo, com grande parte dos acervos georreferenciada (~90%) e disponível em plataformas de compartilhamento de dados. Nosso objetivo com esse ensaio foi apontar as contribuições destas coleções para o conhecimento da diversidade de mamíferos da Mata Atlântica. Ao mesmo tempo, apresentamos as principais contribuições que elas retornam à sociedade e comunidade científica, evidenciando os principais entraves e desafios que perpassam a realidade de coleções regionais. UFES-MAM e UFES-CTA, apesar de regionais, se destacam nacionalmente por reunir material biológico de uma grande variedade de espécies – principalmente roedores, marsupiais e morcegos – além de uma série de tecidos de primatas coletados durante o surto silvestre da febre amarela no Sudeste do Brasil (entre 2017 e 2018). Os esforços dessas coleções contribuíram com 42 novos registros de espécies de mamíferos para o Espírito Santo, além de 25 espécies já registrados no estado, mas listadas apenas em coleções de fora do estado ou na literatura, sem vouchers. Esperamos que as informações aqui relatadas sirvam como exemplos de boas práticas e ampliem o conhecimento e a visibilidade do rico acervo que essas coleções regionais abrigam.
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